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Mostrando postagens de maio, 2025

Contra a Raça Humana

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“ Não nascer é, sem dúvida, o melhor plano de todos. Infelizmente, não está ao alcance de ninguém.” Emil Cioran(1911-1995) Nascer é uma expropriação radical, um ato de violência metafísica contra aquele que, até então, repousava na serenidade inviolável do não-ser. Ser lançado à existência é perder, de uma só vez, a integridade do nada, a paz sem memória, a inocência de jamais ter participado da deterioração do mundo. Aquele que nasce não apenas é arrancado do silêncio primordial, mas é atado, sem qualquer consulta, à engrenagem de um cosmos indiferente, onde dor, frustração e decomposição são não apenas possibilidades, mas estruturas inevitáveis. A vida nos é imposta como uma sentença inapelável, um fardo hereditário que se transmite sob o disfarce de dádiva, quando na verdade é herança de sofrimento, acúmulo de ausência e fadiga. Cada respiração inaugura uma dívida que não contraímos, cada batimento reafirma o erro ontológico de ter sido puxado para fora do nada. Não há justiça possí...

Não Tragam Mais Ninguém

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Penso com frequência — quase em tom de ladainha, como quem murmura uma oração íntima ao absurdo — no que seria de nossos pequenos se, ao saírem do ventre, recebessem de imediato uma consciência plena, lúcida, madura. É uma hipótese improvável, admito; algo entre o delírio e a especulação pueril. Mas essa imagem me persegue. Vejo o recém-nascido abrindo os olhos e, em vez de chorar pela violência do ar que lhe invade os pulmões, chorando por já saber — num lampejo de clareza sobrenatural — o que o aguarda: o fardo dos dias, a dor como permanência, a perda, a solidão, o desgaste do corpo, o apodrecimento da alma, a morte. Talvez, diante de tamanha revelação, calasse ali mesmo o impulso vital — não por desespero, mas por lucidez. Nunca me pareceu evidente que o gesto de criar uma vida fosse, por si só, um ato de amor. Antes, parece-me muitas vezes um capricho mascarado de afeto, uma decisão tomada à sombra de uma ignorância conveniente — ou de um egoísmo mal disfarçado. O nascimento não é...

Antinatalismo - A Solução

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Alguns meses atrás, deparei-me com uma filosofia que desestabilizou de forma profunda minhas convicções mais íntimas. Foi como se palavras, e não punhos, atingissem diretamente a região mais vulnerável da consciência. Já havia lido muito sobre sofrimento, morte, niilismo — temas pesados, sim —, mas nada me abalou tanto quanto o antinatalismo. Não se tratou apenas de uma mudança de opinião; foi uma reconfiguração radical do olhar. Passei a enxergar o mundo como se tivesse, pela primeira vez, retirado um véu. De repente, percebi o óbvio ignorado: o verdadeiro problema não é morrer. O verdadeiro erro é nascer. O antinatalismo, para quem nunca teve contato com o conceito, é uma doutrina simples na formulação, mas devastadora em suas implicações: o ato de gerar uma vida já constitui, em si, um dano. Não se trata apenas de lamentar o sofrimento que permeia a existência, mas de questionar a própria legitimidade de convocar alguém à experiência da vida. O nascimento, nesse horizonte filosófico...