O Sentido do Suicídio
Penso com a regularidade naquela sentença de Schopenhauer: “O suicida quer a vida, apenas está insatisfeito com as condições em que a encontra.” Mas será mesmo? Se eu fosse suicida, duvido que quisesse a vida sob qualquer disfarce. Não são as circunstâncias que me exaurem, mas o fato inapelável de estar condenado a experimentá-las. A própria condição de existir — esta lucidez fatigada, interminável — já constitui uma afronta. A vida não me nega promessas: distribui-as em excesso — excesso de dor, de absurdo, de uma viscosidade entediante que contamina até os simulacros de prazer. E, no entanto, permaneço. Não por fé — essa superstição com pretensões metafísicas —, tampouco por esperança, delírio terminal dos ingênuos, mas por inércia. O corpo prossegue, maquinal, como um cão senil que já esqueceu por que late. O sangue cumpre sua tarefa, os pulmões obedecem, a consciência se arrasta com uma dignidade quase risível. Vivo por hábito, não por convicção. Os dias se repetem como uma p...